POEMA DA MINHA VILEZA
© Reginaldo Honório da Silva
Vim de mãos vazias
porque na solidão dos dias
me propus viver sem limites,
naquilo que supus reto,
como o poema de Pessoa,
pela vileza de tantas vezes,
aos outros, que me dei aparente,
virtuosamente santo,
digno de coisas que não fiz,
que por minhas, indigno, tomei.
E aqui, genuflexo pelas rugas
carregadas de marcas do tempo,
posto a mercê do juízo dos céus,
nada trago por obras minhas.
Eis que me mostro de mãos vazias,
porque na solidão dos dias
nada fiz que me acompanhasse
e me desse aval do santo
feito de mim, só por mim.
Não plantei sementes,
não amei sem limites,
não labutei por verdades
que não fosse minha vileza,
como o poema de Pessoa.
Minhas linhas tortas,
que aparentei retas,
não foram escritas por amor,
mas rabiscada por descaso vil,
no mesmo “sentido mesquinho
e infame da vileza”, de Pessoa.*
Rio Claro, 02 de maio de 2012, às 10h20min.
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