sábado, 24 de abril de 2010

**Série Quem Conta um Conto...Médicos! - Walkyria Garcia


E foi naquela tarde de quarta feira que fui levada até o consultório do doutor Fernando, renomado médico endocrinologista. Só a especialidade do doutor já me dava engulhos. Sabe você, aquele especialista especializado em "não pode?" Deve ser fácil esta especialidade: não pode nada. E fim de papo!

- Boa tarde, diz gentilmente o doutor. Como vai?

- Não vou, fico! Respondi com a delicadeza que me é peculiar quando sei que irão judiar de mim.

- Não perguntei onde a senhora vai, perguntei como o senhora vai.

- Vou de carro.

- Falando sério, disse o paciente médico, a senhora está legal?

- Claro que estou legal. Se estivesse ilegal já estaria presa – respondi no tom azedo.

- A senhora está agressiva. O que é que há?

- Para falar a verdade, estou depressiva pois estou passando fome com o regime que o senhor determinou.

- Ah, então é isso. Já pensou em ver um outro médico que não eu?

- Eu vejo todos os dias.

- Como assim?

- Meu filho é médico, e o vejo todos os dias no jantar.

- E o que ele aconselha que faça?

- Ele não aconselha nada.

- Porquê?

- Por que é radiologista.

- Entendo.

- Na verdade os médicos não sabem nada. Cada um diz uma coisa.

- Mas a senhora já procurou um deles para tratar de sua depressão?

- Já. Vários.

- E ai?

- O primeiro mandou eu tomar um anti- depressivo.

- E?

- A fome passou e eu fiquei com o estomago queimando.

- Então?

- O segundo me deu um remédio para o estômago. A azia passou, mas fiquei com a pior coceira por todo o corpo.

- Que azar!

- Ai fui em outro medico que me receitou antialérgico.

- Está certo.

- Certo nada. Fiquei com tanta sonolência que perdi o último capitulo da novela. Fui então a outro médico que me receitou um estimulante.

- A sonolência passou?

- Passar passou. Mais eis que voltou uma bruta fome. Vim aqui atrás de clemência:

- Me libera para comer uma picanha?

Walkyria Garcia

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