OS ÚLTIMOS PASSOS DO MEU PAI
© Reginaldo Honório da Silva
O Poeta da Estrada
De casa até a padaria,
Distribuindo oi, olá, como vai, tudo bem, bom dia!
Três quarteirões em suave subida.
Três pensamentos, um sentimento,
Uma saudade e uma lágrima fria!
Primeiro pensamento: Que belo dia!
Segundo pensamento: Que manhã fria!
Terceiro pensamento: Os últimos passos do meu Pai.
O sentimento: Solidão.
A saudade: Seu largo e franco sorriso!
A lágrima fria não foi hoje.
Mas nos últimos passos do meu Pai, naquele dia.
Foi só o primeiro quarteirão.
Ida e volta na pressa do seu sacrifício.
A cada poucos passos uma pausa,
Para um descanso, ou uma observação.
Conselhos, alguma lembrança,
Um silêncio obscuro
E um breve ato de perseverança e fé.
Da padaria até em casa.
Nenhum oi, olá, como vai, tudo bem, bom dia!
Três quarteirões em suave descida.
Nenhum pensamento,
Apenas lembrança cruel e dolorida
De uma lágrima fria escondida
Molhando meu desespero,
No desumano e cruel sacrifício
Dos últimos passos do meu Pai.
Rio Claro, 23 de outubro de 2010, às 10h00min.
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