- Ah! minha Rainha, estou tão triste, tão desolada!
- Estou vendo a tristeza em teus olhos Princesinha. Por favor, conte-me o que te aflige.
- Sabe Rainha, eu sei que sou uma boa pessoa. Procuro ajudar à todos. Procuro não magoar ninguém. E mesmo assim, estou sempre me decepcionando. Onde é que estou errando, fico me perguntando.
- Querida menina, certamente você está errando em ficar nesta tristeza que somente enfeia teu semblante.
Você precisa entender que cada um dá o que tem no Coração, porém cada um recebe com o Coração que tem. Está me fazendo lembrar de um lindo pássaro que aqui no Reino vivia.
- Um pássaro? E o que tem de parecido comigo um pássaro?
- Não é exatamente ele que me lembra você. Mas a estória dele. Vou te contar...
“Tínhamos por aqui um Príncipe Jardineiro. Cuidava ele das flores do jardim do Reino. Pela manhã sentava-se embaixo de uma árvore para saborear seu lanche com o olhar perdido olhando as belezas do jardim.
Deixava cair farelos de pão sobre a grama. Um lindo pássaro que morava justamente naquela árvore, descia para comer os farelos acreditando que o Príncipe os deixava para ele.
Criou então um grande afeto pelo jovem que se importava em dividir o lanche com ele, mesmo sendo os farelos.
Certo dia o Príncipe Jardineiro se apaixonou.
Ao se declarar para sua amada, disse ela que acreditaria em seu amor se no dia seguinte o Príncipe desse para ela uma rosa vermelha.
Como presenteá-la com tal flor se estava fora de época e era impossível consegui-la naquela estação?
Lamentando-se desconsolado, o jovem Príncipe sentou-se à sombra da árvore e tristemente chorou o amor que já considerava perdido.
O pássaro que escutara a conversa, ficou penalizado pela desolação do jovem. Teria que fazer algo para ajudar seu amigo a conseguir a flor.
Saiu voando celeremente em direção ao Céu e foi subindo, subindo, até encontrar Aquele que o poderia ajudar. Explicou o que estava se passando e a resposta veio:
- Na verdade, você pode conseguir uma Rosa Vermelha
para teu amigo, mas o sacrifício é grande, e pode custar-lhe a vida!
- Não importa respondeu a ave. O que devo fazer?
- Bem, você terá que se emaranhar em uma roseira,
e ali cantar a noite toda, sem parar, o esforço é muito grande, seu peito pode não agüentar.
- Assim farei, respondeu a ave, é para a felicidade de um amigo!
Já anoitecia quando o pássaro chegou no jardim do Reino. Frente a janela do Príncipe Jardineiro havia uma roseira, e nela se emaranhou. Ali se pôs a cantar com os mais belos e suaves trinado. Precisava caprichar na formação da flor. Quanto mais alto cantava, mais seu peito estufava e era penetrado por um grande espinho. Mas ele não parou, mesmo sangrando, pois era para a felicidade de um amigo, entoando a melodia em sinal de gratidão pelas migalhas que recebia.
O sangue que de seu peito escorria ia se acumulando no galho da roseira.
Na manhã seguinte, ao abrir a janela, o Príncipe Jardineiro ficou radiante com a mais linda rosa vermelha que lá se encontrava.
Ao colher a rosa para sua amada, deparou-se com o corpo inerte do pequeno pássaro. Não lhe ocorreu pensar como estaria ali a rosa vermelha.
Seu pensamento foi:
- Que ave mais estúpida. Tantas árvores e foi se enfiar justamente nessa roseira cheia de espinhos."
- Se era jardineiro, não questionou o milagre do aparecimento da rosa? – perguntou a Princesa.
- Não menina querida. Saiba portanto que esta é uma verdade inquestionável:
Cada um dá o que tem no Coração...
Cada um recebe com o Coração que tem...
Walkyria Garcia
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